quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Em Natal, carne fica até 65,4% mais cara em três anos e volta a ser artigo de luxo

 A carne bovina está cada vez mais distante do prato dos natalenses. Em três anos, de 2019 a 2022, a carne de sol, típica iguaria nordestina ficou 65,4% mais cara na capital potiguar: passou de R$ 27,72 o quilo para R$ 45,86 o quilo. No mesmo período, outros cortes da proteína bovina também acompanharam esse ritmo de aumento. O preço do quilo de alcatra, considerada uma carne de primeira, subiu de R$ 30,17 para R$ 45,71, o que corresponde a uma alta de 51,5%. A carne de segunda também subiu e está mais cara hoje (R$ 32,52/kg) do que a carne de 1ª em 2019. Os dados, levantados pelo Instituto de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon Natal), são referentes ao mês de julho dos anos analisados. 




Na quarta-feira (24), a reportagem da TRIBUNA DO NORTE percorreu açougues e supermercados nos bairros de Candelária, Alecrim e Nossa Senhora de Nazaré e identificou que a alcatra já é encontrada por R$ 56,99/kg. A alta vem provocando mudança nos hábitos alimentares dos natalenses, que passaram a comprar carne em menor quantidade e com menos frequência. A troca por proteínas mais baratas também é uma estratégia utilizada para tentar economizar. Entre os donos dos estabelecimentos, uma saída é oferecer promoções em determinados dias da semana para não afastar completamente a clientela.

Na casa do natalense Carlos Neto, o churrasco do fim de semana ganhou uma nova cara por causa da carestia. A picanha – que está custando R$ 142 o quilo – deu lugar a novos cortes. “Agora a gente compra uma asinha de frango, uma costelinha de porco. Realmente, as coisas ficaram muito caras de uns tempos para cá e a gente faz o que dá, pesquisa, faz uma pechincha e assim vai. A gente, por exemplo, vem consumindo mais a carne suína agora, justamente por causa do preço da carne bovina”, diz.

Em um açougue da zona Oeste de Natal, as vendas caíram aproximadamente 20%. A movimentação também apresenta redução em relação ao período pré-pandemia, diz Kleber Alves, gerente do estabelecimento. “O fluxo de gente diminuiu, as pessoas estão vindo com menos frequência porque o poder aquisitivo em geral diminuiu. Isso atinge a todos, produtores, vendedores e consumidores e a gente percebe porque a gente também vai ao açougue, ao supermercado. O que a gente tenta fazer é conversar com os clientes, oferecer a carne da promoção, explicar, dar alternativas”, destaca Kleber Alves.

O Procon Natal também pesquisou o preço da carne de 2ª (músculo). O corte saltou de R$ 23,73/kg em julho de 2019 para R$ 32,52 no mês passado. Kleber Alves diz que a carne de 2ª acabou se tornando a primeira opção de muitos clientes. “A gente percebe isso. Quem comprava uma picanha agora está comprando um contrafilé, uma alcatra, coxão mole. A carne de 2ª também virou uma boa alternativa, fora o frango, o ovo, que também subiram, mas a gente tem esse trabalho de conversar com o cliente”, diz.



A pesquisa é o principal aliado para não deixar de colocar a carne no prato, diz a pedagoga Kezia Souza Silva. Ela comenta que está indo menos ao mercado e comprando cortes menos nobres. “Eu diminuí o consumo, passei a fazer outros pratos e comprar outros cortes de carne. É nítido o aumento que a gente teve no preço e embora tenha sido algo geral, é importante pesquisar porque ainda faz diferença. Hoje vi aqui que a carne de sol estava em promoção e comprei. E olhe que a gente ainda tem que agradecer a Deus por poder comprar”, comenta.

Kezia diz ainda que além de comprar carne em menor quantidade, vem fazendo substituições. “A gente passou a comer mais frango e ovo no lugar da carne, é uma forma de tentar conciliar. A própria carne mesmo a gente dá uma mudada no cardápio, faz uma paçoca para render mais. Estou fazendo outros pratos também, que utilizam bem menos a carne para poder não faltar, embora a gente vá no supermercado e também se assuste com o preço do frango e do ovo”, acrescenta.

Os dados do Procon Natal atestam as observações dos consumidores sobre a carestia dos produtos. As opções à carne de boi também apresentaram aumento. Em um ano, a dúzia de ovo subiu 25,6% e o quilo do frango congelado aumentou 21,9%. Ampliando o comparativo para o período de três anos, de julho de 2019 a julho de 2022, o preço do ovo quase triplicou, passou de R$ 6,51 para R$ 18,24 – uma alta de 180,18%). No mesmo cenário de comparação, o frango congelado subiu de R$ 7,93/kg para R$ 12,24/kg – uma alta de 54,35%. 

Preços não devem voltar ao patamar pré-pandemia

A pandemia de covid-19 teve impacto significativo na cadeia produtiva de carne bovina e alterou comportamentos alimentares dos brasileiros, ressalta o economista Janduir Nóbrega. A queda no consumo tem relação direta com a alta dos preços e reflete o aumento da fome no País, explica Nóbrega.





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